sábado, 27 de dezembro de 2008

hola chicos! (desde españa)

queridos, como foram de natal? e como estão os preparativos para o revéillon? espero que vocês estejam bem felizes e fazendo todos aqueles planos de vida melhor no ano novo. eu, aqui, já comecei a fazer o meu balanço e a pensar no bem. hoje cheguei a santiago (de compostela). saí para dar uma volta e tomar una taza de chocolate caliente con churros (huuuummm!) agora há pouco e dei de cara com a catedral (destino de milhares de peregrinos do mundo inteiro) iluminada - uma emoção indescritível! amanhã volto lá e entro para fazer minhas orações de agradecimento e para pedir as três únicas coisas que peço sempre, para mim e para os meus: paz, saúde e proteção. os dias aqui estão frios de rachar. dizem que está sendo um dos invernos mais rigorosos dos últimos muitos anos, no que acredito plenamente. vim de lisboa com uma parada estratégica de dois dias no porto - uma cidade encantadora e imperdível. estou aproveitando esta viagem, que apelidei de "circuito oval pela penísula ibérica" (lisboa - porto - santiago - madrid - sevilla - faro - lisboa), para ir a cidades em que nunca estive ou para voltar (com um novo olhar) a lugares especiais. estão sendo dias lindos, em que tenho pensado bastante na vida e em alguns de vocês e batido umas fotos bem bonitas que logo postarei aqui. vou indo, mas tento voltar aqui antes da noche vieja, para desejar feliz ano novo ou para dividir com vocês algumas das coisas lindas que tenho visto por aqui, vale?
p.s.: nem preciso dizer o quanto eu estou feliz por colocar outra vez os meus pezinhos sobre esta "minha terra", né? olé!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

eu e o sol

queridos, graças ao fantástico vôo da tap, que cruza o atlântico, saindo de fortaleza, em apenas e tão somente seis horas, amanheci hoje em lisboa. ainda era madrugada no brasil, mas aqui saíam os primeiríssimos raios de sol quando cheguei.
compartilho com vocês os últimos raios do mesmo sol, que tão lindamente me recepcionou no primeiro dia deste meu tão esperado retorno a este país encantador chamado portugal.
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*acrescentem 3 horas ao horário da postagem abaixo para calcular o meu fuso aqui estes dias, ok?

domingo, 21 de dezembro de 2008

natal intercontinental

um beijo de natal do tamanho do mundo para vocês, queridos.
vou estar longe, mas com vocês no coração.
darei notícias assim que der.
fiquem em paz, pensem no bem, comam rabanadas e sejam felizes.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

meu melhor

porque não basta ser tia, tem que tietar.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

livre para voar

ai, queridos, sobrevivi. a estes últimos dias. a ontem, especialmente. hoje, matei dois leões dos grandes e saí da arena na prorrogação, depois dos quarenta e cinco do segundo tempo, mas ainda viva e feliz, com a impagável sensação de dever (bem) cumprido. a única coisa que lamento é o fato de terem ficado - a despeito de todo o meu sobre-humano esforço - exatos sete processos sobre a minha mesa, à espera de meu retorno, daqui a quase um mês inteiro. só Deus sabe a sensação de alívio que foi olhar para a minha mesa arrumada, desligar o ar, apagar as luzes e cruzar aquele portão da osvaldo cruz pela última vez neste dois mil e oito estranho. agora é desligar, tomar um bom banho (daqueles de deixar a casa toda cheirando a maracujá), comer alguma coisa gostosa, resolver as pendências, arrumar as malas e, dentro de cinco dias, entrar no avião e cruzar um oceano para onde não espero ver absolutamente ninguém que eu conheça. como a vocês eu não vejo mesmo, mas apenas interajo por aqui (!), prometo dar notícias, postar umas fotinhas legais e passar para saber o que vocês também têm feito de bom, vale? antes de ir, ainda apareço para desejar feliz natal. por hora, deixo os recadinhos abaixo:
*troço, no meio dessa bagunça ainda vou arrumar tempo para o nosso sorvete, viu? com intolerância à lactose e tudo. tenha fé!
*clara e mô, acho que o que é nosso tá guardado para a próxima calçada de ipanema, que eu espero (muito) que saia em dois mil e nove.
*preta, agora que eu vou lembrar que existe vida fora da faculdade, vou te mandar aquele e-mail para combinarmos nosso encontro em coimbra. vai ser bom demais ver alguém que eu nunca vejo por aqui além-mar.
*nêugas, nem sei mais se tu ainda lê esta biroska, mas eu juro que eu vou "comparecer à bateria do caixa" e te ligar amanhã para a gente marcar a nossa última mesa de canto do ano. tô até escrevendo, porque sei que a minha palavra, neste caso, tá valendo menos do que o cd pirata da banda calypso no beco da poeira.
*xará linda, não deu mesmo - de novo! - para ir no teu bazar, que deve ser tudo de mais lindo nessa vida, mas eu prometo que no próximo eu vou, viu? e vai ser o encontro de candices mais bonito que o mundo já viu.
*todos, beijos e lindos últimos dias do ano para vocês, onde quer que vocês estejam.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

e me pergunto:

ainda tem alguém aí?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

unthinkable good things can happen, even late in the game...

queridos, a vida anda ainda mais corrida do que o habitual por aqui. final de semestre é sempre um periodozinho de lascar. muita coisa para fazer, para acertar, para deixar pronto. muito aluno sem futuro querendo resolver em um dia um semestre inteiro de lambança, um caos total. eu? sem tempo nem para respirar. comendo mal e dormindo pior ainda. chegando em casa às dez (da noite, claro!) e demorando até as três (da matina!) para desligar da tomada, de tanta eletricidade. acordando quatro horas depois, mooooooooorta de sono, oficórsi. no meio de tudo, no entanto, alguns preciosos momentos de prazer: uns presentinhos de natal chegando (chocolates, perfuminho bom, livrinhos de poesia de florbela espanca-me!); umas poucas providências para a viagem; meu encontro comigo mesma* ontem (tão interessante e revelador!); uma pizzazinha com amigos em plena terça no rosso; o almoço, em petit comité, de despedida da camis (foi-se uma era - vou sentir saudades da dupla dinâmica C1 & C2!) hoje, na casa dela; uma lua cheia chegando...
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*clarita, querida, lo siento, mas não é conveniente contar para o "grande público" que por aqui aparece. depois de mr. google - bem sabemos! - nunca mais estivemos a salvo. detalhes sórdidos na coxia, quando os dias me permitirem, ou uma calçada de ipanema, num futuro não tão distante.

domingo, 7 de dezembro de 2008

a quem interessar possa (ou não)

*a vida é generosa. tira com uma mão e dá com a outra. não que haja compensação possível para certas coisas, mas sou resignada e estou certa de que o que não me mata, me fortalece.
*voltei ao trabalho na quinta e estou sozinha na coordenação mas acho - eu disse acho! - que sobrevivo até o dia 17.
*contagem regressiva para o dia 22 e minhas merecidas férias, bem longe daqui.
*até lá, milhões de coisas para fazer entre trabalho, médico, exames, presentes, lavanderia, malas, correções de provas, defesas de monografias, festival de dança da nic, almoços, jantares e despedidas.
*enquanto isso, livros que se acumulam na minha cabeceira: a terceira xícara de chá (greg mortenson & david oliver relin - a terminar), a sombra do vento (carlos ruiz zafón), o jogo do anjo (carlos ruiz zafón), a cidade do sol (khaled hosseini) e a menina que roubava livros (markus zusak).
*filme bonitinho o que eu vi ontem no dragão do mar: eu, meu irmão e nossa namorada - título em português para o original dan in real life. despretensioso, mas fofo. e recheado das ironias da vida.
*a propósito, imperdível o novo do woody allen - vichy cristina barcelona - visto alguns dias atrás. penélope cruz, lindaaaaaaaaa, botando a scarlett johansson no chinelo. sim, as filmagens foram feitas na minha terra (barcelona e oviedo) e a trilha flamenca naturalmente tem um significado enorme para mim.
*a árvore de natal da praça portugal montada. bonita que só. toda de labirinto - um trabalho artesanal típico do ceará. estou tentando conseguir uma foto, para dividir com vocês, como fiz ano passado.
*as árvores do aldeota mall cheias de luzinhas. dá gosto voltar do trabalho pela desembargador moreira.
*terça eu tenho um encontro importante comigo mesma. se eu achar conveniente, conto para vocês depois.
*sorte do dia do orkut: sorria. isso basta.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

olha as coisas melhorando

queridos, estou melhorzinha. voltei para casa e a encontrei cheia de borboletas, estrelas, balões, flores e cheirinhos (tudo com um significado implícito!). coisa da minha mãe, que pegou a minha chave e foi lá, escondidinha, me fazer mais este mimo.
ah, queridos, eu preciso dizer que tenho os melhores pais do mundo: meu pai é a minha base, a minha segurança, e minha mãe é pura luz, leveza e transcendência. ficar mais perto deles sempre me ajuda a me curar mais rápido das pauladas desta vida.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

absoLUTO!

queridos, estou aqui, quietinha ainda, ferida, com o celular desligado, refugiada na minha carapaça de caranguejo, ainda na casa dos meus pais, sob os cuidados e amor intensivos dos meus. falta-me, literalmente, um pedaço. perdi meu bebê às onze semanas de gestação e parte do coração. tenho tentado ser forte. enfrentei com coragem o invasivo procedimento hospitalar da última terça-feira. choro pouco, e em silêncio. parece que a anestesia anestesiou-me a alma. não há proporção entre o que choro e o que sinto. vez por outra escorre-me uma lágrima (fora de contexto) de um dos olhos. estou certa de que um dia (que pode ser amanhã ou daqui a vinte anos), em algum lugar (talvez o chão do meu banheiro ou diante do grand canyon), chorarei todas as lágrimas não vertidas estes dias. hoje, uma semana depois, me sinto um tantinho melhor. devo agradecer – e por isto, em grande parte, estou aqui – às mensagens, aos e-mails, aos scraps, aos buddypokes, às tentativas frustradas de falar comigo (devidamente registradas pela oi), às visitas no hospital, às boas vibrações e ao amor enviados por telepatia ou outra espécie de sintonia espiritual ainda não rastreada pela ciência, às nhás bentas, às substituições no trabalho... muito obrigada, mesmo. quinta-feira acaba minha licença médica e devo retomar minhas atividades normais, o que certamente me ajudará a tocar a vida para a frente, como deve ser. pouco depois virão as férias e o providencial fim deste bissexto tão emocionalmente complexo para mim. vou viajar. sair daqui um pouco me fará um bem danado, eu sei - sempre faz. só não sei ainda para onde. os últimos acontecimentos zoaram toda a programação, que originalmente incluía praga, paris e londres. foi um tal de "vai", "não vai mais", "vai de novo não sei mais para onde" que não estranharei se acabar decidindo na véspera. tenho pensado em portugal. as passagens da tap estão compradas e temos um apartamento (vazio e muitíssimo bem localizado) para ficar em lisboa. perderíamos o trecho até praga e a passagem de trem entre paris e londres, mas em compensação não gastaríamos os milhões de euros não programados antes da crise financeira mundial e manteríamos o projeto "europa com sérias restrições orçamentárias". no mais, seria uma viagem absolutamente sem stress, como pede o meu momento. friozinho suportável, correria zero, muita calma para fazer tudo, retornar a cascais, ao estoril, ir a sintra, talvez ao porto, ou rumar para o sudeste, atravessar a fronteira para a minha terra e passar uns diazinhos em sevilla... dar um olé em 2008 e entrar 2009 bem longe daqui. outra possibilidade, menos pretensiosa, é cumprir o já tradicional ritual paulistano de natal. por hora, nada sei. pode ser uma coisa, outra, as duas, ou nenhuma das duas - o que, confesso, me irritaria profundamente num outro momento, mas não agora. os últimos acontecimentos me lembraram a impermanência da vida e a inutilidade dos grandes planejamentos. à medida que as coisas forem se redesenhando, vou contando a vocês, tá bem assim?
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beijos especiais para aqueles que com palavras e/ou atos me ajudaram a sobreviver à esta semana: dr. olimar, dr. marcelo, mônica, clara-lu, carol troço, claudinha mãe-do-troço, carol prima, nana, pri, manu, gê, olive, ju, juju, otávio, camis, vanis, abniza, chelzinha, nic, saulito, mari, déa, tuca, vicente, san, toti, kika, dona vera, seu luís, tia lulu, tio odar, davi, dani, vovós, tio régis, tio rogério, tio fernando, cecis, alê, nídia, socorro, eliana, sand, sam, henry, nininha, lilil, chrys, sharon, zezê, fê, papi e momi.
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recado especial para clara-lu: o importante é tomar nossos rinocerontes por camundongos e não perder o bom-humor jamás. e eu prometo voltar a sorrir como o gato da alice. pode demorar um pouquinho, mas prometo.

domingo, 2 de novembro de 2008

obama for america, obama for the world!

ando nervosa com as eleições desta semana. sou descrente dos americanos. os acho incapazes de eleger um democrata negro anti-imperialista de sobrenome hussein. queira deus que eu esteja errada, queira deus.
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tento voltar esta semana para falar de mim. há um bocado para falar sobre mim depois de brasília.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

sob o céu de brasília...

... estarei da metade de hoje a quarta.
vou a trabalho. conto mais na volta.

domingo, 5 de outubro de 2008

cada um no seu quadrado

porque eu queria que já fosse dezembro.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

vou-me embora para o oriente

e vejam só o que ganhei hoje!
[porque, no meio de todo o desencanto, há de haver alguma coisa bela que subitamente apareça,
que nos faça lembrar que a humanidade não está completamente perdida, e que viver ainda vale a pena.]

sábado, 20 de setembro de 2008

v.r.s.n.s.m.v s.m.q.l.i.v.b

tem dias em que a única coisa que me consola é saber que a vida é implacável e vem cobrar dos sacanas a sacanagem feita aos outros. vontade de mandar al carajo (quase) tudo e (quase) todos .
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e bem no meio de uma semana de mierda, de MUITAS chateações no trabalho, uma infecção respiratória bizarra e resistente, uma dor muscular pungente (reflexo de meu compulsório retorno à musculação - desta vez devidamente vigiada por uma personal), uma unha quebrada no tronco, e uma saudade lascada do meu lilil, saramago e mark ruffalo vieram em meu auxílio. um tanto quanto chocante, porém imperdível, a versão de fernando meirelles para ensaio sobre a cegueira (blindness). a propósito, vejam a reação de saramago ao assistir o filme pela primeira vez.

sábado, 13 de setembro de 2008

dos limões, uma limonada

mais um belíssimo filme fora do circuito blockbuster.
lemon tree propõe uma leitura poética da disputa de terras entre palestinos e israelenses e é de uma sutileza incrível. os limoeiros são apenas metáforas das coisas simples, e mais essenciais, que nos aproximam e nos individualizam. a natureza humana não reconhece rótulos culturais, ideológicos e religiosos. dos limões podemos fazer uma guerra ou uma doce limonada.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

saudade

meu coração foi morar nos estados unidos.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

minha são paulo

está decidido. quando eu ficar velha, compro um apartamento charmoso nos jardins e vou morar em são paulo. sem precisar pegar a marginal para ir trabalhar, restrinjo minha vida ao quadrilátero formado entre a paulista, a estados unidos, a rebouças e a brigadeiro luís antônio. ali, deslocando-me sempre a pé, farei como as mulheres maduras que observei desta vez: resolverei minhas coisas práticas; verei todos os filmes de arte em cartaz na reserva cultural, no conjunto nacional e no espaço unibanco da augusta; tomarei cafezinhos solitários na starbucks da alameda santos, no havanna da bela cintra, no frans café da haddock lobo ou na ofner da campinas; gastarei largas fatias de minha merecida aposentadoria na livraria cultura e na fnac; almoçarei nos finais de semanas com meus poucos amigos no viena ou comerei com eles uma pizza na veridiana da josé maria lisboa nas noites de quinta-feira. visitarei com freqüência o masp, para conferir as exposições temporárias ou ficar alguns minutos diante do rosa e azul de renoir na galeria permanente, lembrando com saudades de minha infância na oliveira viana, onde tínhamos uma réplica na parede. irei regularmente ao teatro, especialmente aos dramas e às comédias, porque ainda serei uma mulher de extremos. e ainda me encantarei com o trianon - aquele monte de verde rodeado de cinza por todos os lados, inclusive o de cima.
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foto: vista terraço itália

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

sampa

amanhã tô lá. justo quando eu já quase sufocava aqui.
volto domingo, mas é tempo suficiente para pegar fôlego até o final do ano.
não vejo a hora de ir para longe. bem longe.

sábado, 16 de agosto de 2008

insensatez

ah, insensatez que você fez
coração mais sem cuidado
fez chorar de dor o seu amor
um amor tão delicado
ah, por que você foi fraco assim
assim tão desalmado?...
[vinícius de moraes e tom jobim]
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porque a mônica salmaso cantando insensatez é o que há
e desta vez me tocou profundamente.
e porque (re)assistir quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores? esparramada no sofá da sala, tomando um cabernet sauvignon chileno numa taça apropriada,
pode ser o melhor programa de feriado ever.
um brinde ao delicado da vida!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

ní hao!

esta biroska foi recentemente linkada num blog bem interessante chamado crônicas urbanas. e eis que numa breve passagem por lá me deparei com um texto - pra lá de oportuno - de luís fernando veríssimo, intitulado pense na china, que transcrevo abaixo.
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Sugestão para um dia em que você não tiver nada com o que se preocupar e estiver até convencido que o mundo pode melhorar, deve melhorar, tem que melhorar. Finja que é agora. Simule otimismo. Imite alguém acreditando no futuro com toda a força. Faça cara de quem não tem dúvidas de que tudo vai dar certo. Convença-se de que tudo vai dar certo. Pronto? Agora pense na China.
Desanimou, certo? É impossível pensar na China e continuar, mesmo em fingimento, despreocupado. Dentro de muito pouco tempo vai acontecer o seguinte: a China vai tornar o resto do mundo supérfluo. Não vai ser preciso existir mais ninguém, de tanto que vai existir a China. O nosso destino é, enquanto a China cresce, irmos ficando cada vez mais desnecessários. Em, o quê? Vinte anos? A China terá o maior parque industrial, com a mão-de-obra mais abundante e portanto mais barata, da Terra, e produzirá de tudo para o maior mercado consumidor da Terra que será qual? O dos chineses, mesmo ganhando pouco. A China concentrará toda a atividade econômica do planeta entre as suas fronteiras. A China se bastará.
Mas não pense que vamos ficar assistindo ao espetáculo da auto-suficiência chinesa da cerca, esperando alguma sobra. Antes de se tornar definitivamente autocapaz a China terá que garantir as fontes da sua energia. O seu inevitável choque com aquele outro sorvedouro de combustível fóssil, os Estados Unidos, pelas últimas reservas de petróleo do mundo pode literalmente nos arrasar. Sugestão para a reflexão antes de dormir esta noite, se você conseguir dormir: o petróleo do Oriente Médio escasseando, dois monstros sedentos cuja sobrevivência depende do petróleo se enfrentando — e nós no meio. Ganhará o confronto final, nuclear ou não, quem tiver mais gente. A China tem muito mais gente do que os Estados Unidos.
Enquanto isto, a Índia… Mas chega. Reanime-se. A vida é boa, há borboletas, os pêssegos estão ótimos e a Copa vem aí. Eu, na verdade, não tenho com o que me preocupar mesmo. Estou a caminho da fase pré-fóssil e não estarei aqui quando tudo isto acontecer. Mas só queria avisar.
[Luís Fernando Veríssimo]
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bem de acordo com as minhas predições niilistas sobre o futuro da humanidade... o que eu penso quando penso na china? que a abertura dos jogos olímpicos de beijing foi uma excelente e perspicaz oportunidade de apresentar (ou relembrar) ao mundo a magnitude e grandiosidade chinesa. lindo demais, original demais, e um tanto amedrontador.

domingo, 3 de agosto de 2008

"ouve-me, ouve o meu silêncio. o que falo nunca é o que falo e sim outra coisa..."
[clarisse l.]

segunda-feira, 14 de julho de 2008

liberté, égalité, fraternité!!!

VIVA A REVOLUÇÃO FRANCESA!
[e viva eu neste 14 de julho!]

quarta-feira, 9 de julho de 2008

a vida continua...

todo o operacional após a morte de alguém é muito cruel. fazer parte deste processo tem me matado um tantinho também. e eu me pergunto: para quantas pessoas neste mundo somos verdadeiramente insubstituíveis?
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- agora a gente já pode fazer as reservas dos hotéis de praga, londres e lisboa.
- pois é. e é bom a gente ligar para a joinha para saber se vamos ter de cancelar aquela primeira diária em paris.
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às vezes a vida nos permite uns diálogos bem improváveis.

domingo, 6 de julho de 2008

carpe diem

cruzamo-nos pela última vez na escadaria de acesso restrito onde habitualmente professores e funcionários se encontram ao percorrerem, invariavelmente apressados, sentidos opostos. era quarta(talvez quinta)-feira desta semana. já nem me lembro se era eu quem subia ou descia naquela oportunidade. lembro-me apenas de havermos trocado, como de costume, rápidas palavras cordiais de saudação e despedida, e de sentir-me levemente constrangida com a minha incurável mania de encurtar, em tom de intimidade, o nome de pessoas pelas quais nutro tímido, mas real, apreço. se eu soubesse que não mais o veria com vida, certamente teria lhe dado um abraço e falado do prazer que tinha sido encontrá-lo, como colega de ofício, nesta fugaz existência.
uma semana antes tínhamos tido a oportunidade de conversar com um pouco mais de calma, sentados que estávamos na coordenação, onde ele tinha ido verificar os horários do semestre que vem – semestre que, a despeito de todo o planejamento, ele não mais lecionará. na ocasião, lembro-me de havê-lo indagado o porquê de tanta pressa, de tanta atividade simultânea, sem entender exatamente como ele conseguia tempo para coordenar um curso de direito numa faculdade e dar aulas em duas outras, com o agravante de localizar-se uma delas fora da capital. em resposta ele me disse, com a ansiedade comum a todos aqueles que instintivamente pressentem o pouco tempo de que dispõem neste plano, que eu esquecia ainda da militância como advogado, do envolvimento freqüente em atividades da oab e do rotary, da esposa e do pequeno arthur, e da paixão pelo pára-quedismo, herança familiar do avô militar. lembro-me de havê-lo ligeiramente repreendido, destacando o perigo desnecessário dessa prática esportiva.
ontem ele foi a primeira pessoa que me veio à cabeça ao acordar. como coordenadora, sentia-me responsável por adverti-lo a respeito do cancelamento da disciplina de férias que ele daria na faculdade a partir de amanhã. a cancelamos por não contarmos, até o final do dia da última quinta-feira, com o número mínimo de alunos matriculados que justificasse o fechamento da turma. sabendo que ele estava em são paulo, e imaginando que talvez ele tivesse programado retornar no domingo apenas em função do início das aulas, quis oportunizar uma extensão da viagem, se ele assim entendesse conveniente. minha primeira providência do dia, portanto, foi enviar-lhe um e-mail avisando – e-mail que, a julgar pela ausência de resposta, ele jamais chegaria a ler. mal sabia eu, então, que caberia a mim, como última providência daquele mesmo sábado, enviar outro e-mail, desta vez para a larga lista de nossos docentes, comunicando a triste notícia de seu falecimento prematuro.
dona morte anda solta neste bissexto estranho e parece-me bastante prudente que a tratemos com toda a deferência. desafiá-la com saltos de pára-quedas e outras imprudências é de todo desaconselhável. dona vida, de sua parte, mostrou-se uma vez mais impermanente e imprevisível, e deixou-nos a todos consternados e a mim, em especial, (over)pensativa.
episódios como esse nos lembram, inevitavelmente, de nossa própria mortalidade. nos fazem repensar a vida e a maneira como a estamos conduzindo. deveria-nos mudar radicalmente o foco, as prioridades, o timing. mas não mudam mais do que por alguns poucos dias, o que eu avalio como uma tosca característica de nossa imperfeita humanidade. enquanto o sentimento está bem fresco, escrevo para eternizar minha impotência absoluta diante do imponderável, minha incalculável tristeza íntima de lembrar que cada dia desta vida é mais um dia a menos que um dia a mais. escrevo também, queridos, para pedir-lhes, como vinícius, que tomem vento, que tomem tento, que vivam o hoje, que amem em tempo integral, que se cuidem muito, que peçam proteção divina e que não se esqueçam que "esta vida é uma estranha hospedaria, de onde se parte quase sempre às tontas, pois nunca as nossas malas estão prontas, e a nossa conta nunca está em dia."

quarta-feira, 2 de julho de 2008

il y a toujours quelque chose d´absent qui me tourmente

paris — toda vez que chego a paris tenho um ritual particular. depois de dormir algumas horas, dou uma espanada no rodenirterceiromundista e vou até notre-dame. acendo vela, rezo, fico olhando a catedral imensa no coração do ocidente. sempre penso em joana d’arc, heroína dos meus remotos 12 anos; no caminho de santiago de compostela, do qual notre-dame é o ponto de partida — e em minha mãe, professora de história que, entre tantas coisas mais, me ensinou essa paixão pelo mundo e pelo tempo. sempre acontecem coisas quando vou a notre-dame. certa vez, encontrei um conhecido de porto alegre que não via pelo menos há 20 anos. outra, chegando de uma temporada penosa numa londres congelada e aterrorizada por bombas do IRA, na época da guerra do golfo, tropecei numa greve de fome de curdos no jardim em frente. na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para botucatu quanto para java, budapeste ou maputo — nada interessa. viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”, feito Pessoa. eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. sabia só que doía, doía. sem remédio. enrolado num capotão da segunda guerra, naquela tarde em notre-dame rezei, acendi vela, pensei coisas do passado, da fantasia e memória, depois saí a caminhar. parei numa vitrina cheia de obras do conde saint-germain, me perdi pelos bulevares da ile de la cité. então sentei num banco do quai de bourbon, de costas para o sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “iI y a toujours quelque chose d’absent qui me tourmente” (existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por camille claudel a rodín, em 1886. daquela casa, dizia a placa, camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. perdida de amor, de talento e de loucura. fazia frio, garoava fino sobre o sena, daquelas garoas tão finas que mal chegam a molhar um cigarro. copiei a frase numa agenda. e seja lá o que possa significar “ficar bem” dentro desse desconforto inseparável da condição, naquele momento justo e breve — fiquei bem. tomei um calvados, entrei numa galeria para ver os desenhos de egon schiele enquanto a frase de camille assentava aos poucos na cabeça. que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. sentir sede, faz parte. e atormenta. como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente, três anos depois fui parar em saint-nazaire, cidadezinha no estuário do rio loire, fronteira sul da bretanha. lá, escrevi uma novela chamada bem longe de marienbad, homenagem mais à canção de barbara que ao filme de resnais. uma tarde saí a caminhar procurando na mente uma epígrafe para o texto. por “acaso”, fui dar na frente de um centro cultural chamado (oh!) camille claudel. lembrei da agenda antiga, fui remexer papéis. e lá estava aquela frase que eu nem lembrava mais e era, sim, a epígrafe e síntese (quem sabe epitáfio, um dia) não só daquele texto, mas de todos os outros que escrevi até hoje. e do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei. pego o metrô, vou conferir. continua lá, a placa na fachada da casa número 1 do quai de bourbon, no mesmo lugar. quando um dia você vier a paris, procure. e se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. guarde sem dor, embora doa, e em segredo.
[caio fernando abreu]
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porque poucas coisas são melhores do que ir a paris. voltar a paris certamente é uma delas.

sábado, 28 de junho de 2008

metáfora das ampulhetas

eu? seguindo na minha lida ininterrupta, no meu afã continuado, na minha perseverante tentativa de fazer as pazes com o tempo. pretendendo deixar o passado no passado e o futuro no futuro. permitindo que cada grão de areia passe, sozinho, um de cada vez, pelo estreito canal da ampulheta da vida chamado presente. vivendo a vida em pequenas doses diárias, de amor, paz, paixão, tristeza, alegria, tensão, dor, expectativa, realização, sofrimento, saudade, desejo, conforto, cansaço, agitação e tédio... e (over)pensando se o tempo realmente passa, ou somos nós que passamos por ele(?).

domingo, 22 de junho de 2008

e o vento levou

muitos anos depois eu choraria emocionada
na segunda fila de uma igreja,
desejando que ele fosse tão feliz quanto fomos na infância.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

conselho de quintana

não te abras com teu amigo
que ele um outro amigo tem
e o amigo do teu amigo
possui amigos também...
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[às vezes eu me sinto uma caixa de segredos alheios.]

sexta-feira, 13 de junho de 2008

primeira pessoa do singular

eu quero: aprender a querer o que tenho (ando lendo sponville!)
eu tenho: um rico e inatingível mundinho interior
eu gostaria de ter: menos consideração com o passado
eu gostaria de não ter: tanta imaginação
eu acho: que a vida tem vontade própria
eu odeio: superficialidade, confusão, ingratidão, insensibilidade, grosseria e coentro
eu sinto saudades: de tudo o que foi e já não é
eu faço: coleção de corujas
eu fiz e não faria de novo: comprar um carro amarelo ímola
eu fazia e deixei de fazer: comprar (e comer) bono de chocolate
eu escuto: meu celular tocando quando ele não está tocando
eu cheiro: à flor de maracujá
eu imploro: por uns feriados em 2008.2
eu pergunto-me: e se...?
eu arrependo-me: de pouco ou nada
eu amo: cada vez menos gente
eu sinto dor: (de ouvido) quando o avião começa a descer para aterrissar
eu sinto falta: de tudo o que poderia ter sido e não foi
eu sempre: agradeço pelo que tenho
eu não fico: me lamentando da vida
eu acredito: que os anjos moram nas bibliotecas e se encontram às 18h nos telhados dos edifícios
eu danço: flamenco (ainda?)
eu canto: enquanto dirijo
eu choro: em filmes, desenhos animados, despedidas, reencontros, casamentos, enterros, formaturas e congêneres
eu falho: no meu exercício diário de inteireza
eu luto: contra a minha vontade recorrente de fugir dirigindo um carro conversível ao som de sade - a cantora (minha fantasia não-sexual!).
eu escrevo: porque sou uma escritora frustrada
eu ganho: uma demão de verniz a cada paulada que levo
eu perco: um dia desta vida a cada dia que passa
eu nunca: digo nunca mais ou para sempre
eu estou: me descobrindo cada vez mais racional
eu sou: a menininha de vermelho de um poema de vininha
eu fico feliz: quando estou entre os meus
eu tenho esperança: de que o mundo não se acabe amanhã
eu preciso: ler epicuro, spinoza, schopenhauer e caio fernando abreu
eu deveria: dormir e acordar mais cedo, fazer exercício físico e comer mais proteína
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porque um quiz é a melhor coisa para se publicar num blog quando não se tem o que publicar num blog.

terça-feira, 27 de maio de 2008

a bênção, bahia!

foi assim meu salvador 2008.
com direito a pôr-do-sol furta-cor.
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por aqui, dias estranhos.
com terremotos em sentido denotativo e conotativo.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

avisa lá, avisa lá, avisa lá ô ô, avisa lá que eu vou...

tô indo ali, queridos, perder a voz, mais uma vez,
diante do "maior mar do mundo".
assistir a dois pores-de-sol. um no farol, outro no mam.
procurar outro quadro de candinho no mercado modelo.
comer acarajé e cocada legítimos.
e pedir a bênção, pra mim e pra vocês, ao senhor do bonfim,
a santo antônio (da barra) e a todos os orixás.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

noor-ho-tebbe

será que os amores seriam os mesmos sem djavan, vinícius, chico e roberto (carlos)??? estou certa de que não. é a música que colore o amor.
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a própósito, o violão de glen hansard e o piano marketa irglova têm dado um tom blue aos dias cinzas que insistem em pairar sobre fortaleza.
[sim, eu ainda ando ruminando o filme!]
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p.s.: se eu fosse música, comporia uma bem bonita esta noite.

domingo, 11 de maio de 2008

once

minhas almas sensíveis amadas, façam-se um favor: assistam once. estou encantada. mais um filme europeu que entra na lista dos meus top 10. será minha trilha sonora diária nos próximos meses.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

separação

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles. Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação. Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce. Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas. De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...

[vinícius de moraes]

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tem alma de poeta todo aquele que consegue ver beleza na tristeza.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

ene-a-o-til

"Na rotina de 'me ser' tanto compromisso como a coerência e a precisão deve ter me envelhecido séculos."
[clara (del valle)]
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em compensação, parece que finalmente eu aprendi a dizer não.

domingo, 27 de abril de 2008

amigos meus

Ah, meus amigos, não vos deixeis morrer assim... O ano que passou levou tantos de vós e agora os que restam se puseram mais tristes; deixam-se, por vezes, pensativos, os olhos perdidos em ontem, lembrando os ingratos, os ecos de sua passagem; lembrando que irão morrer também e cometer a mesma ingratidão. Ide ver vossos clínicos, vossos analistas, vossos macumbeiros, e tomai sol, tomai vento, tomai tento, amigos meus! – porque a Velha andou solta este último Bissexto e daqui a quatro anos sobrevirá mais um no Tempo e alguns dentre vós – eu próprio, quem sabe? – de tanto pensar na Última Viagem já estarão preparando os biscoitos para ela. Eu me havia prometido não entrar este ano em curso – quando se comemora o 19640 aniversário de um judeu que acreditava na Igualdade e na justiça – de humor macabro ou ânimo pessimista. Anda tão coriácea esta República, tão difícil a vida, tão caros os gêneros, tão barato o amor que – pombas! – não há de ser a mim que hão de chamar ave de agouro. Eu creio, malgrado tudo, na vida generosa que está por aí; creio no amor e na amizade; nas mulheres em geral e na minha em particular; nas árvores ao sol e no canto da juriti; no uísque legítimo e na eficácia da aspirina contra os resfriados comuns. Sou um crente – e por que não o ser? A fé desentope as artérias; a descrença é que dá câncer. Pelo bem que me quereis, amigos meus, não vos deixeis morrer. Comprai vossas varas, vossos anzóis, vossos molinetes, e andai à Barra em vossos fuscas a pescar, a pescar, amigos meus! – que se for para engodar a isca da morte, eu vos perdoarei de estardes matando peixinhos que não vos fizeram mal algum. Muni-vos também de bons cajados e perlustrai montanhas, parando para observar os gordos besouros a sugar o mel das flores inocentes, que desmaiam de prazer e logo renascem mais vivas, relubrificadas pela seiva da terra. Parai diante dos Véus-de-Noiva que se despencam virginais, dos altos rios, e ride ao vos sentirdes borrifados pelas brancas águas iluminadas pelo sol da serra. Respirai fundo, três vezes o cheiro dos eucaliptos, a exsudar saúde, e depois ponde-vos a andar, para frente e para cima, até vos sentirdes levemente taquicárdicos. Tomai então uma ducha fria e almoçai boa comida roceira, bem calçada por pirão de milho. O milho era o sustentáculo das civilizações índias do Pacífico, e possuía status divino, não vos esqueçais! Não abuseis da carne de porco, nem dos ovos, nem das frituras, nem das massas. Mantende, se tiverdes mais de cinqüenta anos, uma dieta relativa durante a semana a fim de que vos possais esbaldar nos domingos com aveludadas e opulentas feijoadas e moquecas, rabadas, cozidos, peixadas à moda, vatapás e quantos. Fazei de seis em seis meses um check-up para ver como andam vossas artérias, vosso coração, vosso fígado. E amai, amigos meus! Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres, este, sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. Mas sobretudo não morrais, amigos meus!
[vinícius de moraes]
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e ontem estive, ainda perplexa, no terceiro velório do ano, desta vez na assembléia legislativa, entre noventa e nove por cento da gente pública deste estado, lembrando com pesar daquele dia de novembro passado, quando encontrei o dr. demócrito num almoço do conselho de integração social da faculdade e fiquei tão (bem) impressionada com o seu otimismo, com a sua personalidade vibrante e com o carinho e a deferência gratuitos com que ele se referiu ao fernando. penso que meu marido perdeu um grande patrão, e o ceará um grande homem. anda bem estranho este bissexto.

sábado, 19 de abril de 2008

conselho de cervantes

e, finalmente, sentiu que o mundo tinha dado uma volta completa ao redor de si mesma e sorriu, aliviada. tomou outra vereda, e pronto.
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resposta de caio f. (de fodástico) abreu às perguntas de vinícius (do post anterior): "Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem juntos para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada."

terça-feira, 15 de abril de 2008

o amor por entre o verde

Não é sem freqüência que, à tarde, chegando à janela, eu vejo um casalzinho de brotos que vem namorar sobre a pequenina ponte de balaustrada branca que há no parque. Ela é uma menina de uns 13 anos, o corpo elástico metido nuns blue jeans e num suéter folgadão, os cabelos puxados para trás num rabinho-de-cavalo que está sempre a balançar para todos os lados; ele, um garoto de, no máximo, 16, esguio, com pastas de cabelo a lhe tombar sobre a testa e um ar de quem descobriu a fórmula da vida. Uma coisa eu lhes asseguro: eles são lindos, e ficam montados, um em frente ao outro, no corrimão da colunata, os joelhos a se tocarem, os rostos a se buscarem a todo momento para pequenos segredos, pequenos carinhos, pequenos beijos. São, na sua extrema juventude, a coisa mais antiga que há no parque, incluindo velhas árvores que por ali espapaçam sua verde sombra; e as momices e brincadeiras que se fazem dariam para escrever todo um tratado sobre a arqueologia do amor, pois têm uma tal ancestralidade que nunca se há de saber a quantos milênios remontam. Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes, para descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno, numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a perscrutar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre a fronte do namorado, para vê-lo melhor e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir, e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo. Que será, pergunto-me eu em vão, dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bocas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã quando eu chegar à janela, não verei um rapazinho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com os cabelos presos? E se prosseguirem se amando, pergunto-me novamente em vão, será que um dia se casarão e serão felizes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se darão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado? É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente amado... Esqueço o casalzinho no parque para perder-me por um momento na observação triste, mas fria, desse estranho baile de desencontros, em que freqüentemente aquela que devia ser daquele acaba por bailar com outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram. E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas.
[vinícius de moraes]
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... porque eu sou como a mulher perfeita do vinícius... eu não venho, eu surjo... eu não vou, eu parto... e talvez eu tenha aquela capacidade de emudecer subitamente e de se fazer beber o fel da dúvida... talvez!

domingo, 13 de abril de 2008

é preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã...

... porque se você parar pra pensar, na verdade não há.
sexta fui ao tja assistir ao espetáculo de bruce gomlevsky como renato russo. em poucas palavras: original, nostálgico, denso e emocionante. saí tocada do teatro e com a sensação de que mereço mais noitadas culturais do que esta cidade é capaz de me oferecer. afinal, aquelas peças com os globais de terceiro escalão no celina queiroz definitivamente estão muito aquém das minhas expectativas. a companhia era boa, adulta e intelectualmente compatível, de maneira que a esticada no rosso e a garrafa de vinho chileno levaram a digressões muito interessantes. ando quase convicta de que um programa que aguça a sensibilidade cumulado a uma pequena dose de álcool leva às observações mais oportunas. no final da noite, depois de uma entusiasmada discussão, cheguei à conclusão de que, dadas as circunstâncias que podem levar a uma traição, homens e mulheres são igualmente passíveis de cometer uma infidelidade conjugal, e de que o que leva à estatística de que os homens traem mais do que as mulheres nada tem a ver com o velho mito das necessidades orgânicas, mas com o fato de que as mulheres são seres superiores e traem menos porque precisam de envolvimento emocional.
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triste a consumição que levou renato, cazuza, tim, vinícius e tantos outros para quem a realidade era dolorosa demais. consolo é apenas a constatação de que todos eles estão mais vivos do que muitos de nós.
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"então é isso o amor? essa coisa que nos faz acreditar que tudo vai ficar bem e que se desfaz, assim, de uma hora para outra?".

quarta-feira, 9 de abril de 2008

sorte do dia:

"hoje você vai ver um biscoito da sorte que nunca viu antes."

como assim, bial??? hellou!!!
não sei por que insisto com o orkut.

cadê o pó de chocolate que estava aqui?

não sei. quem sabe? vai saber! não sei como será o amanhã, nem quem eu serei. muito menos sei quem você será. não sei se vou estar viva, se vou estar aqui, se vou para longe e, neste caso, se darei notícias. não sei se manterei os cabelos longos, se terei filhos ou se vou desistir do cachorro. não sei se tudo estará do meu gosto. não sei quem eu ainda vou conhecer, ou desconhecer, nem quem eu vou perder de vista. não sei quanta gente ainda vai entrar e sair da minha vida. não sei se serei uma grande professora, nem se farei um doutorado. não sei se manterei discos e livros e, os mantendo, não sei se os ouvirei ou os relerei com freqüência. não sei se manterei o velho hábito de sentir saudades de tudo e de cultivar o passado. não sei se me curarei deste mal a custa de cervantes ou de psicanálise, ou se esta será, afinal, a minha incontornável sina de canceriana. não sei como verei este dois mil e cinco de outro ângulo, como vou avaliar as minhas escolhas, nem como vou me olhar no espelho daqui a alguns anos. não sei se terei terminado meus cursos de francês e alemão, se conhecerei a grécia e o egito, se voltarei a madrid, nem se um dia caminharei sozinha de novo pelo retiro. não sei. não sei qual será o dia mais feliz da minha vida, nem o mais triste - porque tenho a impressão de que nem um, nem outro, chegou ainda. não sei como sobreviverei a determinadas perdas, nem se sobreviverei a elas. não sei quantas surpresas a vida ainda me reserva. não sei quantos carnavais e quantos natais tenho pela frente. não sei quantas luas cheias eu ainda hei de ver. não sei quantos banhos de mar, nem quantos banhos de chuva ainda hei de tomar. não sei por quanto tempo meu relógio amarelo ainda vai continuar marcando os meus minutos. não sei de nada. só sei que os dias vão se seguindo, coisas estranhas vão acontecendo, lembranças vão se acumulando, o pó de chocolate vai acabando e eu vou indo, tocando pra frente, fazendo pequenas escolhas diárias que se transformarão em grandes escolhas definitivas quando eu as olhar mais adiante. a vida vai passando assim, sem que tenhamos dela muita consciência. apenas o discernimento indispensável para seguir em frente, além e apesar de tudo o que vai ficando para trás. porque o que vem depois pode ser surpresa, pode ser alegria, pode ser tristeza, pode ser dor, pode ser beleza, pode ser o que for, mas precisa ser vivido, precisa ser cumprido, precisa ser aceito. porque ou a gente aceita a vida ou é infeliz, já diria cazuza. ontem é lembrança. hoje é realidade. amanhã é mistério.
[mais uma da série "republicando o passado"]
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constatação: três anos se passaram e quase todas essas questões permanecem irrespondidas. a vida continua um misto de saudade, esperança e incógnita.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

lado a lado b

escolher é, talvez, o mais difícil de todos os verbos que temos que conjugar na vida. desde pequenos, em nossas infâncias burguesas, fomos sendo preparados pela vida para escolher - ainda que não tivéssemos consciência disso na maior parte das vezes. escolher entre a bicicleta ou o video game na cartinha do papai noel era já um exercício preparatório para uma vida de escolhas que nos aguardava - dos mais fáceis, diga-se de passagem. ainda na infância, alguns de nós tiveram de fazer uma primeira dura e definitiva escolha: morar com o papai ou com a mamãe - primeira geração que fomos depois da lei do divórcio, de 1977. felizmente, não foi o meu caso, pero bueno... ao longo da vida temos de escolher entre tantas coisas: em que colégio estudar (às vezes nossos pais ou irmãos mais velhos escolhem por nós!); deixar ou não as aulas de piano; que faculdade fazer; sair ou não naquela noite de sábado definitiva; aceitar ou não aquele convite para jantar; sair ou não da casa dos pais; aceitar ou não aquela oferta de emprego; com quem morar junto; com quem casar; com quem ter filhos - isso depois de escolhermos entre tê-los ou não tê-los. e a maioria dessas escolhas - apesar de não termos consciência na hora - são mais definitivas do que imaginamos. escolher uma coisa significa preterir outra, sempre. não dá para colocar o lado a e o lado b para tocar ao mesmo tempo. não do mesmo disco e na mesma vitrola. é uma questão física. escolher a bicicleta pressupõe desistir do video game. morar com a mamãe significa ver o papai só nos fins de semana. estudar no colégio x determina que aquelas pessoas a quem primeiro chamaremos de amigos não serão as do colégio y. escolher a faculdade de direito significa que muito provavelmente jamais seremos biólogos. sempre podemos fazer outra faculdade - alguns pensarão - mas a verdade é que as folhinhas do calendário caem depressa demais e tudo vai ficando mais difícil. olhando para trás certamente lembraremos das bifurcações definitivas de nossos caminhos. aqueles momentos incrivelmente especiais em que tivemos de optar por virar à direita ou à esquerda - instantes que fizeram toda a diferença. ser feliz - me parece - não é muito mais do que ter aquela sensação de ter feito as escolhas certas no caminho da vida. ou do que ter a coragem e a disposição necessárias para voltar atrás quando percebemos que fizemos a escolha errada. por isso é que existem as segundas faculdades, os segundos empregos, os segundos casamentos, e os terceiros e os quartos... pensemos nisso!
o que não dá pé é ficar em cima do muro, colocar o lado a para tocar e ficar cantarolando as músicas do lado b... é o difícil exercício diário de inteireza ao qual todos nós deveríamos nos dedicar com mais afinco.
[escrito e publicado em 2004, num blog meu já falecido]
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e me vem sempre a máxima do amor fati de nietzsche: "escolhe o teu destino, ama o teu destino."

sábado, 5 de abril de 2008

prefixo des

"não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma.
tudo agora está suspenso. nada agüenta mais nada.
e sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes,
o que é que derruba um castelo de cartas! não se sabe...
umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca...
outras vezes senta uma mosca e desaba uma cidade."
[mário quintana]
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cada dia me convenço mais: a vida tem vontade própria.

impressões (tardias e resumidas) de são luís

as marés de são luís são uma metáfora da impermanência da vida,
o guaraná é gay e as ruas cheiram a história e excrementos humanos.

terça-feira, 1 de abril de 2008

pois é

[i know what you did last summer.]

segunda-feira, 31 de março de 2008

control c control v

"saudade... é o vazio deixado por um tempo que não existe mais,
quando várias portas que se fecharam com o passar dos anos
ainda estavam abertas..."
[adriano silva]

domingo, 30 de março de 2008

confissão

"que esta minha paz e este meu amado silêncio
não iludam a ninguém
não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
acho-me relativamente feliz
porque nada de exterior me acontece...
mas, em mim, na minha alma,
pressinto que vou ter um terremoto!"
[mário quintana]
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continuamos cá, eu e meu infinito particular.

quarta-feira, 19 de março de 2008

santa semana!

fui ali, "azulejar" meus dias.
volto domingo, a tempo de filar o imbatível bacalhau da minha mãe.
linda semana santa, queridos!

terça-feira, 18 de março de 2008

missa de 4º dia

e, de repente, vi-me diante do "único mal irremediável" e fiquei aqui, desejando que a morte seja mesmo apenas uma curva na estrada, e que morrer nada mais seja que deixar de ser visto.
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como diria isabel, "a vida é puro ruído entre dois insondáveis silêncios".
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eu peço luz no caminho de quem vai e resignação no coração de quem fica. e lembro que cada dia de vida é mais um dia a menos que um dia a mais.

sexta-feira, 7 de março de 2008

adeus velho mundo

"... e cada segundo, cada momento,
cada instante é quase eterno,
passa devagar
se o seu mundo for o mundo inteiro
sua vida, seu amor, seu lar
cuide tudo o que for verdadeiro,
deixe tudo o que não for passar..."

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

micro-cosmos

com tempo de sobra neste meu pós-operatório, e criatividade de menos, vou brincar um pouco d´"as coisas que fui acumulando e que me compõem":

filmes europeus. livros sobre o oriente médio. uma considerável deferência pelo islã. ouvir mil vezes a mesma música. esparsos objetos amarelos. corujas. celular com cheiro do meu perfume. gérberas laranjas. fotos antigas numa caixa. saudades da infância. apego ao passado. impressionante capacidade de apagar más lembranças. vinícius. flamenco: ouvido e bailado. zapatos, castañuelas e falda esquecidos dentro de uma grande bolsa de lunares (leia-se bolas). lua cheia. um tapete vermelho de yoga. quatro cicatrizes, em ordem cronológica: um risquinho no queixo, herança da infância; um "T", de taíba, no tornozelo direito; outro risquinho sobre o maxilar esquerdo, onde antes eu ostentava um charmoso sinal de nascença; e - a mais recente - uma listra, por enquanto avermelhada, medindo entre sete e oito centímetros, na base do pescoço, bem acima da pequena saliência que se forma quando se encontram minhas clavículas direita e esquerda. trident canela. meu inseparável curvex. rímel indispensável. capacidade de enxergar beleza na tristeza. uma cegueira crescente, certa vez diagnosticada como "miopia dos oficiais da aeronáutica norte-americana". fascínio inexplicável por aviões. vontade crescente de estudar história da arte. óculos ray-ban. falar espanhol. comportamento paradoxal. chocolate diário. viagens. meu rico e inalcançável mundinho interior. vocação para a docência. compulsão por bolsas. convicção de que os anjos existem, vivem nas bibliotecas e se encontram, diariamente, às dezoito horas, nos telhados dos edifícios. tímida, porém real, devoção por são bento, são miguel arcanjo e nossa senhora. esperança de que um dia terei um chow-chow com nome de gente. desejo de adotar um chimpanzé da fundación mona. vontade de chorar diante da beleza. vontade de morrer pós documentários/filmes sobre a áfrica (tipo "o jardineiro fiel", "diamante de sangue" e congêneres). pavor a coentro, baratas, grosseria e ingratidão. gente querida que mora longe. culto à delicadeza. admiração por quem sabe crasear. e muitas, muitas reticências... (*hohoho*)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

a benção do silêncio

já perceberam que quanto menos a gente fala mais a gente enxerga?
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[eu ando brincando de clara del valle]

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

fundamental é mesmo o amor...

foi tanto amor antes e tem sido tanto amor depois que nem o desconforto de ter o pescoço costurado, nem a vida parada, nem as noites (mal) dormidas de barriga para cima, têm me tirado do sério. o telefone tocou e chegaram e-mails, mensagens e scraps dos quatros cantos desse brasil e de pelo menos dois continentes. gente dizendo que estava rezando, que ia mandar boas energias, que ia dar tudo certo. gente dizendo que eu ia fazer muita falta mas que segurava as pontas no trabalho até a minha volta. gente passando em casa um dia antes, de surpresa, só pra me dar um abraço e me deixar um cd de mantras. gente querendo saber como tinha sido a operação, como eu estava me sentindo, quando eu ia para casa, o que eu queria ver, ler, ouvir e comer. gente me despertando do meu primeiro soninho pós-cirúrgico tocando vinícius numa flauta doce do lado de fora do quarto do hospital (até agora estou aqui me perguntando se isso teria sido uma encomenda terrena - de algum de vocês - ou divina?). gente me visitando no monte klinikum e dizendo que eu estava com uma cara ótima, mesmo eu estando com uma cara péssima. gente me fazendo suquinhos, sopinhas, mingauzinhos, purêzinhos e mousse de maracujá. gente me trazendo häagen dazs de chocolate belga, tentando entender minhas mímicas, não me deixando só um só segundo, e ficando com o olho cheio d´água porque eu voltei para casa, sã e salva... estava absolutamente tranqüila e correu tudo bem, queridos. a "libertação da borboleta" foi um sucesso e as expectativas do por vir são as mais otimistas possíveis. voltei para casa em menos de um dia completo e a cada hora que passa me sinto um tantinho melhor (incrível como nosso corpo busca a perfeição e a cura a cada instante). agora é continuar quietinha por aqui até que eu me restabeleça por completo. queria agradecer o amor e as boas energias de todos e dizer que a gente sara mais rápido quando tem porque e por quem sarar. amo vocês. obrigada.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

prosopopéia

bom dia, tristeza
que tarde, tristeza
você veio hoje, me ver
já estava ficando
até meio triste
de ficar tanto tempo
longe de você...
[única parceria de vinícius e adoniran barbosa]
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"me abusei, hunf!"
meus processos emocionais são lentos, porém definitivos.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

TRÊS EM UM

durante o último hiato? digamos que a vida oscilou entre o desinteressante e o impublicável. nada a escrever aqui, portanto.
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cara ana cláudia, seria você a pessoa que me lê do novo méxico? satisfaça-me esta curiosidade, please?
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clara del valle, querida, a borboleta tem sentido conotativo. a incisão, desafortunadamente, não.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

EFEITO BORBOLETA

terça-feira libertarei, com incisão cirúrgica, a borboleta entalada em minha garganta.
[a cicatriz me fará lembrar que introspecção, circunspecção, contenção e reserva têm preço.]

domingo, 20 de janeiro de 2008

LIÇÕES DO ORIENTE

do mesmo diretor do fantástico finding neverland e baseado no best seller homônimo de khaled hosseini, o caçador de pipas é um daqueles filmes que ninguém assiste em vão. humano, forte, sensível e emocionante. não deixem de ver, queridos!
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[e cada vez mais eu me apaixono pela honradez dos muçulmanos não-fundamentalistas.]

sábado, 12 de janeiro de 2008

A CIGANA LEU O MEU DESTINO...

... e disse que eu tinha futuro.
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[viu só? nem só de passado vive uma canceriana.]

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

QUIÉN LLENARÁ DE PRIMAVERAS ESTE ENERO...

... y bajará la luna para que juguemos?...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

DUAS CIDADES, UMA VIAGEM


MI BUENOS AIRES QUERIDO!

ah, queridos! permitam-me escrever minhas impressões de buenos aires. me ajudará a organizar meus sentimentos a respeito da cidade e quem sabe ajude alguém, algum dia, que esteja indo para lá e acabe me encontrando pelo google (?).

bom, muito provavelmente alguém já tenha escrito isso em algum lugar, mas me é inevitável fugir ao possível clichê de dizer que buenos aires é uma cidade híbrida. em poucas palavras, eu diria que ela conjuga o charme europeu com a decadência sulamericana. a 9 de julio tem um quê de nova york. a corrientes é a brigadeiro luís antônio. muitos outros pontos também lembram são paulo. la boca tem um certo ar de salvador. palermo é ipanema, com suas ruas estreitas e arborizadas, mas sem o mar. puerto madero é barcelona. e a recoleta, para fechar com chave de ouro, é paris. e todos esses lugares falam espanhol, com aquele acento charmosérrimo que diz cache, ao invés de calhe (calle); chô, no lugar de djô (yo); e assim por diante. as coisas todas muito baratas. um paraíso de compras para brasileiros, que agora estão favorecidos pelo câmbio. na minha mala voltaram quatro novas camisas da lacoste, algumas peças da zara y otras cositas más, sem contar o perfuminho básico do free shop e aquele rímel da mac que eu não tive coragem de comprar no rio no meio do ano. e já que estamos falando em dinheiro, o ideal é levar um tanto de reais, para trocar diretamente por pesos em casas não exploradoras (fuja daquelas que ficam no aeroporto, na calle florida ou dentro de shoppings), e abusar do cartão de crédito. dentre eles, o visa é, disparado, o mais aceito. o dinners não é aceito em todos os lugares. outra coisa interessante é dar preferência às lojas que têm tax free. comprando nelas a economia é ainda maior porque, além do benefício do câmbio, você será, desde que se submeta a uma pequena burocracia, restituído (em dólares) do valor correspondente ao imposto (procure os guichês do global refund no aeroporto de ezeiza). sobre onde ficar, prefira os hotéis do centro. a maioria deles perde o glamour do grande recuo da calçada, mas a comodidade de poder locomover-se a pé à calle florida, às galerías pacífico, ao obelisco e mesmo à recoleta pagam a perda. para quem quer ir mais longe, os taxis são grandes aliados. a dica, aqui, é só pegar aqueles que têm a inscrição radio taxi nas portas traseiras. os outros, igualmente pintados de preto e amarelo, mas sem o detalhe, não são muito seguros. locomover-se de táxi em buenos aires é muito barato. a corrida mais cara que fiz, cruzando boa parte da cidade, custou em pesos o equivalente a R$ 12. uma pechincha. o trânsito, no entanto, é absolutamente caótico, muito em razão das reivindicações diárias dos portenhos, que adoram um piquete e são um povo de memória, ao contrário dos resignados brasileiros - nos quais, naturalmente, me incluo. durante os cinco dias em que estive por lá houve greve dos funcionários da construção civil, que reivindicavam segurança no trabalho; manifestações pelo aniversário dos seis anos da renúncia do de la rua e pelos três anos do incêndio que vitimou quase duas centenas de pessoas - a maioria jovens - na boate cromañon. andar a pé, no entanto, sempre foi e sempre será a melhor maneira de se conhecer uma cidade. também vale tomar pelo menos um ônibus ou um metrô, para incluir-se na rotina dos habitantes e experimentar o lugar como morador, e não apenas como turista. comer e beber em buenos aires é uma maravilha para os amantes das carnes e dos vinhos. os guarda-sóis da cerveja quilmes, espalhados por toda a cidade, são um convite tentador mesmo para não-apreciadores. para quem não curte carne vermelha, como eu, o lance é se contentar com boas massas, acompanhadas dos mesmos bons vinhos, ou cair de boca nas padarias e nos indescritíveis sorvetes. os da heladería freddo são, de fato, de outro mundo. eu diria, sem exagero, que seria capaz de tomar um avião e ir até lá só para tomar um sorvete de dulce de leche granizado, de preferência no pátio externo da charmosa loja da recoleta, onde pessoas tomam displicentemente seus cafés, acompanhados de alguma galletita e de um copinho de água com gás, enquanto amigos, amantes e cachorros (o golden retriever da foto chamava-se lúcio) dividem o espaço do jardim parisiense da frente com os mortos do cemitério (foto 1) mais poético que já vi na vida. ainda sobre o tema gastronômico, alfajores não podem faltar na bagagem de mão da volta. os havanna são os mais tradicionais, mas vale levar alguns abuela goye de chocolate semi-amargo con dulce de leche. também na bagagem de mão, para amantes do idioma espanhol e de autores hispanohablantes, como eu, não pode faltar um exemplar de alguma obra recém lançada. voltei com la suma de los días, da fantástica isabel allende, que obviamente devorei durante meus dias em são paulo. mas o que de melhor voltou na minha bagagem emocional, e o que ficou mesmo gravado no coração, foi o presente, absolutamente inesperado, que ganhei de buenos aires em minha última noite na cidade: a despedida de julio bocca (ma-ra-vi-lho-so bailarino argentino, mundialmente conhecido) dos palcos, o que aconteceu num armado em pleno obelisco, com direito à participação de bailarinos do royal e do american, e com "palhinha" de ninguém menos que mercedes sosa, para uma platéia de mais de duzentas mil pessoas. lindo demais ver o reconhecimento daquele povo a um artista que levou o nome da argentina para o mundo inteiro. emocionante demais vê-lo dançar, pela última vez, entre outras coisas, os pas-de-deuxo corsário, do cisne negro e - o meu preferido, por supuesto - dom quixote . gracias julio!

*curiosidades e serviços de utilidade pública: os vendedores de lojas e atendentes de restaurantes não te dão a mínima; os taxistas são simpáticos e mais cultos que muitos políticos brasileiros; as facas não cortam e as tomadas são tortas, de maneira que não é possível plugar nenhum eletro-eletrônico sem solicitar um adaptador (em espanhol, peça um adaptador de enchufe). o antigo enfado argentino parece haver sumido com o reconhecimento de que o turismo tem sido essencial para o reerguimento do país pós-crise; a pobreza não é tão miserável quanto a brasileira e não gera qualquer sensação de insegurança e o estádio do boca está completamente sucateado. ah! e cuidado com os dinheiros falsos na hora de receber troco. suspeite de notas muito novas.

SÃO PAULO, TE AMO, SÃO PAULO...

o congestionamento em são paulo começa no céu. depois de esperar exatas duas horas, dentro do avião, em ezeiza, porque precisávamos seguir uma fila para decolagem e porque havia uma greve dos controladores de vôo em montevideo, tivemos que ficar sobrevoando santos por uma hora porque não era possível entrar no espaço aéreo paulistano. menos mal que eu tinha isabel allende no colo, que a lua estava cheia e que sou do tipo que se distrai com esses pequenos mimos da natureza. passava das 23:00 horas do domingo, dia 23, ante-véspera do natal, quando desembarcamos em guarulhos, e agora o congestionamento - acreditem - era em terra. a 23 (de maio) e a paulista completamente paradas. ê são paulo! durante os quinze dias que fiquei desta vez, me revezei entre a cama (dormi muiiiiiiiito), a casa de amigos, bons restaurantes e padarias, alguns starbucks (o do cruzamento das alamedas santos e campinas tem uma varandinha que é o máximo) e a reserva cultural (para quem não conhece, um pequeno complexo que une um café, um restaurante, uma pequena livraria, um corredor de exposições temporárias e algumas salas de cinema de arte, tudo no térreo baixo no prédio da gazeta, no coração da paulista, a três quadras de onde me hospedo). lá, aproveitei para ver o bonito o amor nos tempos do coléra, adaptado do livro, de mesmo título, de gabriel garcía marquez, e o imperdível a vida dos outros (das leben der anderen), ganhador do oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado - que vão chegar a fortaleza provavelmente só em 2010. não pude ir dar minha olhada anual no rosa e azul de renoir porque o masp estava fechado em razão do furto do retrato de suzanne bloch, de picasso, e d´o lavrador de café (vulgo negão do pezão, que é o nome que eu dou para ele quando jogo leilão de arte), de portinari, surrupiados sem resistência dias antes de minha chegada e resgatados ontem pela polícia. também acabei não indo ao encontro de gilberto freyre na estação da luz, por circunstâncias que não valem a pena mencionar. as predições algorianas pareceram confirmarem-se, mais uma vez, porque eu nunca senti tanto calor em são paulo. essa estada na paulicéia desvairada me confirmou a tese de que, ao contrário do rio, que por razões óbvias nos causa amor à primeira vista, é preciso ir seguidas vezes a são paulo para entendê-la e apaixonar-se por ela. me provou, também, que além da cidade da diversidade cultural e racial, são paulo é agora a cidade, por excelência, da diversidade sexual. tinha gay bonito saindo pelas culatras do bistrol, da galeria dos pães e do fran´s café da haddock lobo - sem falar no frei caneca (vulgo gay boneca), que esse já é notório e sabido há tempos. e eu me sentindo, como sempre, bem demais, longe do provincianismo ainda característico da minha terra e perdida no meio daquela multidão cosmopolita, democrática e que não dá a mínima para a vida dos outros.

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tá aí, queridos, o resumo prometido das minhas férias merecidas. estou de volta, à minha casa, à minha vida, ao meu trabalho (tive uma reunião ontem para comunicar, entre outras coisas, que houve a supressão de uma semana de minhas férias e eu, que voltaria a trabalhar só no dia 21, retomo minhas atividades já na próxima segunda, dia 14 - quando a esmola é grande...). estou de volta também a esta biroska, de coração aberto para tudo o que me for consentido neste 2008 recém-nascido. na medida do possível (e do publicável), vou contando tudo a vocês.