domingo, 16 de agosto de 2009

chico lico

ele cumpriu sua primeira missão com excelência: re-unir nossa família. hoje não tenho dúvidas de que foi muito por ele ter vindo, assim, tão aparentemente antes da hora, que nos mantivemos juntos depois de nosso mais tenebroso momento familiar. ele foi a bonança depois da nossa tempestade. aos catorze anos era ainda cedo para que eu o recebesse como sobrinho, de maneira que o recebi como irmão, naquela metade exata de maio de noventa e dois. com o passar dos anos, fui aprendendo a ocupar meu posto de tia e, hoje, mais do que isso, sinto que somos amigos. compartilhamos o gosto pelos estudos, pelo correto uso do português, pelo conhecimento do mundo, pelos enigmas de lost, pelos cafés gelados da starbucks e pela boa música. mais do que isso, nos admiramos mutuamente, e nos amamos. ele foi minha maior saudade durante o tempo em que morei na espanha. quando retornei, na primeira vez em que saímos juntos sozinhos, ele (então com quatro anos) me disse que, na falta do brinde do mc lanche feliz, eu poderia trazer o triste mesmo. depois, quando o papai comprou aquelas cadeiras wassily em couro preto e branco, ele ligou para a casa dele para certificar-se de que sua cadela dálmata estava viva. existem fundadas crenças familiares de que ele tenha trazido de volta o espírito que nos fugiu do convívio doze anos antes. acho bonito acreditar nisso, e acredito. quando ele foi para os estados unidos, levou junto um pedaço do meu coração. quando me dei conta de que ficaríamos um tempo sem a sua presença leve e seu abraço terno, caí num choro contraditório, com o mais íntimo desejo de que ele não fosse e não deixasse de ir. o dia em que ele voltou para casa foi um dos mais felizes e compensadores que me lembro ter vivido. ele é o irmão que não tive. o filho que ainda não tenho. é quem senta à minha esquerda nos almoços familiares. é quem me esconde os talheres e quem me chama de baixinha. sim, ele é maior do que eu. e o amor que eu o tenho, também.

2 comentários:

  1. Que lindo! Que declaração mais sincera e mais delicada! Eu não tenho sobrinhos... Infelizmente! Mas de amor eu entendo e é lindo compartilhá-lo.

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