quarta-feira, 9 de abril de 2008

cadê o pó de chocolate que estava aqui?

não sei. quem sabe? vai saber! não sei como será o amanhã, nem quem eu serei. muito menos sei quem você será. não sei se vou estar viva, se vou estar aqui, se vou para longe e, neste caso, se darei notícias. não sei se manterei os cabelos longos, se terei filhos ou se vou desistir do cachorro. não sei se tudo estará do meu gosto. não sei quem eu ainda vou conhecer, ou desconhecer, nem quem eu vou perder de vista. não sei quanta gente ainda vai entrar e sair da minha vida. não sei se serei uma grande professora, nem se farei um doutorado. não sei se manterei discos e livros e, os mantendo, não sei se os ouvirei ou os relerei com freqüência. não sei se manterei o velho hábito de sentir saudades de tudo e de cultivar o passado. não sei se me curarei deste mal a custa de cervantes ou de psicanálise, ou se esta será, afinal, a minha incontornável sina de canceriana. não sei como verei este dois mil e cinco de outro ângulo, como vou avaliar as minhas escolhas, nem como vou me olhar no espelho daqui a alguns anos. não sei se terei terminado meus cursos de francês e alemão, se conhecerei a grécia e o egito, se voltarei a madrid, nem se um dia caminharei sozinha de novo pelo retiro. não sei. não sei qual será o dia mais feliz da minha vida, nem o mais triste - porque tenho a impressão de que nem um, nem outro, chegou ainda. não sei como sobreviverei a determinadas perdas, nem se sobreviverei a elas. não sei quantas surpresas a vida ainda me reserva. não sei quantos carnavais e quantos natais tenho pela frente. não sei quantas luas cheias eu ainda hei de ver. não sei quantos banhos de mar, nem quantos banhos de chuva ainda hei de tomar. não sei por quanto tempo meu relógio amarelo ainda vai continuar marcando os meus minutos. não sei de nada. só sei que os dias vão se seguindo, coisas estranhas vão acontecendo, lembranças vão se acumulando, o pó de chocolate vai acabando e eu vou indo, tocando pra frente, fazendo pequenas escolhas diárias que se transformarão em grandes escolhas definitivas quando eu as olhar mais adiante. a vida vai passando assim, sem que tenhamos dela muita consciência. apenas o discernimento indispensável para seguir em frente, além e apesar de tudo o que vai ficando para trás. porque o que vem depois pode ser surpresa, pode ser alegria, pode ser tristeza, pode ser dor, pode ser beleza, pode ser o que for, mas precisa ser vivido, precisa ser cumprido, precisa ser aceito. porque ou a gente aceita a vida ou é infeliz, já diria cazuza. ontem é lembrança. hoje é realidade. amanhã é mistério.
[mais uma da série "republicando o passado"]
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constatação: três anos se passaram e quase todas essas questões permanecem irrespondidas. a vida continua um misto de saudade, esperança e incógnita.

5 comentários:

  1. não cliquem no link solicitado acima... é vírus!

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  2. o gato comeeeeu!

    teus textos são bons demais, ave maria.
    tu continua perdida nessa vida, né? só Jesus! kkkkkk!
    mas é, querer resposta pra isso aí, meu bem, só vivendo mesmo.

    :*

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  3. Essa menina é canceriana típica.. Adora lembrar do passado. Que bom, não tinha lido essas suas crônicas...
    Bjo, querida. Ah, e dúvidas sempre perseguem as mentes overpensantes...

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  4. Qdo releio meus velhos rabiscos a constatação é bem parecida, sabe tri? "As coisas mudam, mudam e continuam iguais..." Mas não há de ser, assim, totalmente ruim isso.

    (adorando essa coisa de republicar. Perdi duas encarnações blogueiras, não li tdas as tuas pérolas!)

    Clara Del Valle

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  5. o pó de chocolate que estava aí eu não sei onde está... o que eu sei é que vc tinha q publicar um livro...

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